terça-feira, 30 de julho de 2013

O Silêncio de Maria - por Pe Zezinho



 O silêncio que machuca


Foi duro o silêncio de Maria. Ter algo a dizer e não poder fazê-lo, não porque não houvesse o que dizer, mas porque jamais seria compreendida!...
Por mais santo que José fosse, era noivo. Como iria compreender que a mulher com quem prometera se casar estava grávida, mas não houvera traição? Não compreenderia, como não compreendeu. E Maria
não disse nada. Rezou e esperou...

Não foi um silêncio fácil, nem para ela e nem para José. Agora, de longe, parece tudo muito santo e muito bonito. Lá, naqueles dias de silêncio, foi um tormento doloroso para os dois. Para ele, porque tudo apontava para a infidelidade, por mais que amasse Maria e quisesse crer na pureza dela. Para ela, porque, mais que explicasse, não faria - se compreendida. Os evangelhos deixam isso muito claro.

Ninguém de nós compreende aquele silêncio, a não ser que passe pela experiência de ter que ficar quieto, calar-se, não poder falar, porque o falar implicaria em maior sofrimento para nós e para outros.

É duro o silêncio de quem não pode falar, nem mesmo para explicar. Milhões de pessoas tiveram que ficar quietas ao ponto do martírio, porque o falar implicaria em dor para os outros. Milhões conhecem a tortura do silêncio. Se pudessem falar, explicariam tudo. Mas não podem, porque o falar significa machucar alguém que não resistiria. É assim o silêncio dos psicólogos, de leigos envolvidos com casos delicados de droga ou desvios graves de comportamento; é assim o silêncio de padres e religiosas; é assim o silêncio de pessoas de fé que, quanto mais se calam, mais parecem consentir e mais razão parecem dar aos boatos que parecem fatos.

Não sabe o que é o martírio aquele que não teve que engolir em seco sua verdade. Uma palavra o defenderia, mas ela não pôde ser dita. E os amigos vão rareando. As pessoas acham que onde há fumaça, há fogo. Quem punha a mão no fogo, já não põe mais. Por mais solidários que se mostrem, uma pontinha de dúvida fica. O difamado ou caluniado nunca tem defesa. Por mais inocente que seja, não há o que dizer, nem adianta dizer, porque onde foi o boato, não vai o fato.

Maria fez o certo. Calou-se e deixou tudo nas mãos de Deus. "Seja como Deus quiser!" E mais, não disse!

Quando tivermos que guardar algum enorme silêncio, porque dizer faria bem a nós, mas faria mal a outros, guardemos silêncio. O Deus que pôs a luz no ventre de Maria, também a pôs na cabeça de José. É rezar, pedir luzes e assumir a cruz. Afinal, nenhuma palavra faz sentido sem o silêncio que a acompanha. Nós, cristãos, deveríamos entender este mistério. Deus é comunicação, mas o que Ele mais faz é silêncio. E todos os que disseram alguma coisa de útil em nome Dele, precisaram primeiro entender este silêncio.

Perguntemos aos profetas. Perguntemos a João. Perguntemos a Jesus. Ninguém fala bem de Deus, se nunca ficou quieto em nome Dele...

Fonte: Pe. Zezinho, scj

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